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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

JOSÉ DE ALENCAR



Nome completo:José Martiniano de Alencar
Pais: José Martiniano Pereira de Alencar e Ana Josefina de Alencar
Cônjuge: Ana Cochrane
Formação: Direito
Profissão: Escritor, critico e político.
Nacionalidade:Brasileiro
Estado: Ceará 
Naturalidade: Fortaleza

Nascimento:01/05/1829 
Falecimento:12/12/1877
Principais Obras: Cinco minutos, O Guarani, Iracema,Guaúna, Senhora,O Gaúcho etc.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

RABINDRANATH TAGORE


Nome completo: Rabindranath Tagore
Pais: Tagore Debendranath e Sarada Devi
Cônjuge: Mrinalini Devi
Filhos: Amir Tagore, Harun Tagore Ravat
Formação: Direito
Profissão: poeta, romancista, músico, dramaturgo, contista, e crítico de arte hindu
Nacionalidade: Índia
Naturalidade: Calcutá
Nascimento: 12/07/1904
falecimento: 23/09/1973
Principais Obras: Gitanjali (Ofertas de Música), Gora (Enfrentamento Justo) e Ghare-Baire ( A casa e o mundo)
Prémios: Nobel de Literatura


AMOR PACÍFICO E FECUNDO!

Não quero amor que não saiba dominar-se,

desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

Dá-me esse amor freso e puro como a tua chuva,

que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.

Amor que penetre ate o centro da vida,

e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e fça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!

O Céu e o Ninho

És ao mesmo tempo o céu e o ninho.

Meu belo amigo, aqui no ninho,
o teu amor prende a alma
com mil cores,
cores e músicas.

Chega a manhã,
trazendo na mão a cesta de oiro,
com a grinalda da formosura,
para coroar a terra em silêncio!

Chega a noite pelas veredas não andadas
dos prados solitários,
já abandonados pelos rebanhos!
Traz, na sua bilha de oiro,
a fresca bebida da paz,
recolhida
no mar ocidental do descanso.

Mas onde o céu infinito se abre,
para que a alma possa voar,
reina a branca claridade imaculada.
Ali não há dia nem noite,
nem forma, nem cor,
nem sequer nunca, nunca,
uma palavra!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PABLO NERUDA


Nome completo: Pablo Neruda
Pais: José del Carmen Reyes Morales e de Rosa Basoalto Opazo.
Cônjuge: Trinidad Candia Marverde, Matilde Urrutia e Delia del Carril
Formação: Pedagogia 
Profissão: poeta, diplomata
Nacionalidade: Chileno
Naturalidade: Parral
Nascimento: 12/07/1904
falecimento: 23/09/1973
Principais Obras: Todo el amo, La Barcaola, Odas elementales, Cien sonetos de amor, Fulgor y muerte de Joaquín Murieta, Libro de las preguntas, Canto General, Residencia en la tierra etc.
Prémios: o prémio da federação chilena de estudantes de poesia com La canción de la fiesta, Prémio Nacional de Literatura, Prémio Lenine da Paz (1953) e Prémio Nobel da Literatura (1971).

Assim que te quero  
É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro. 

Angela Adonica

Hoje deitei-me junto a uma jovem pura
como se na margem de um oceano branco,
como se no centro de uma ardente estrela
de lento espaço.

Do seu olhar largamente verde
a luz caía como uma água seca,
em transparentes e profundos círculos
de fresca força.

Seu peito como um fogo de duas chamas
ardía em duas regiões levantado,
e num duplo rio chegava a seus pés,
grandes e claros.

Um clima de ouro madrugava apenas
as diurnas longitudes do seu corpo
enchendo-o de frutas extendidas
e oculto fogo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

JORGE AMADO


Nome completo: Jorge Leal Amado de Faria
Pais: João Amado de Faria e de D. Eulália Leal
Cônjuge: Zélia Gattai Amado
Filhos: João Jorge, Paloma e Eulália
Formação: Direito
Profissão: Escritor, Jonalista
Nacionalidade: Brasileiro
Estado: Bahia
Naturalidade: Salvador
Nascimento: 10/08/1912
falecimento: 06/08/2001
Principais Obras: Bahia de Todos os Santos, Gabriela, Cravo e Canela, Capitães da Areia, Tieta do Agreste, Tocaia Grande,O Amor do Soldado, etc.


Trecho do Livro Gabriela 

(...) Os olhos perscrutaram a escuridão. A réstia de luar subia pela cama, iluminava um pedaço de perna. Nacib firmou a vista, jé excitado. Esperara dormir essa noite nos braços de Risoleta, nessa certeza fora ao cabaré, antegozando a sabedoria dela, de Prostituta de cidade grande. Ficara-lhe o desejo irritado. Agora via o corpo moreno de Gabriela, a perna saindo da cama. Mais do que via, adivinhava-o sob a coberta remendada, mal cobrindo a combinação rasgada, o ventre e os seios. Um seio saltava pela metade, Nacib procurava enxergar. E aquele perfume de cravo, de tontear. Gabriela agitou-se no sono, o árabe traspusera a porta,  E aquele perfume de cravo, de tonter. Gabriela agitou-se no sono, o árabe transpusera a porta. Estava com a mão estendida, sem coragem de tocar o corpo dormindo. Por que apressar-se? Se ela gritasse, se fizesse um escândalo, fosse embora? Ficaria sem cozinheira, outra igual a ela jamais encontraria. O melhor era deixar o pacote na beira da cama. No outro dia demoraria mais em casa, ganhando sua confiança pouco a pouco, terminada por conquista-la. Sua mão quese tremia pousando o embrulho. Gabriela sobressaltou-se, abriu os olhos, ia falar, mas viu Nacib de pé, a fitá-la. Com a mão, instintivamente, procurou a coberta mas tudo que conseguiu- por acanhamento ou por malícia? foi fazê-la escorregar da cama. Levantou-se a meio, ficou sentada, sorria tímida. Não buscava esconder o seio, agora visivel ao luar.
-Vim lhe trazer um presente - gaguejou Nacib. -Ia botar em sua cama. Cheguei agorinha...
     Ela sorriu, era de medo ou era para encorajar? Tudo podia ser, ela parecia um criança, os coxas e os seios à mostra como se não visse mal naquilo, como se nada soubesse daquelas coisas, fosse toda inocência. Tirou o embrulho da mão dele:
-Obrigada moço, Deus lhe pague.
     Desatou o nó, Nacib a percorria com os olhos, ela estendeu sorrindo o vestido sobre o corpo, acariciou-o com a mão 
-Bonito...
Espiou os chinelos baratos, Nacib arfava 
- O moço é tão bom...
O desejo subia no peito de Nacib, apertava-lhe a garganta. Seus olhos se escureciam, o perfume de cravo o tonteava, ela tomava do vestido para melhor o ver, sua nudez cândida ressurgia.
-Bonito... Fiquei acordada, esperando pro moço me dizer a comida de amanhã. Ficou tarde, vim deitar.
-Tive muito trabalho- as palavras saíam-lhe a custo.
-Coitadinho... Não tá cansado?
Dobrava o vestido, colocava os chinelas no chão.
-Me dê, penduro no prego.
Suas mão tocou a mão de Gabrila, ela riu:
-Mão mais fria...
Ele não pode mais, segurou-lhe o braço, a outra mão procurou o seio cendo ao luar. Ela o puxou para si:
-Moço bonito...
O perfume de cravo enchia o quarto, um calor vinha do corpo de Gabriela, envolvia Nacib, queimava-lhe a pele, o luar morria na cama. Num sussurro entre beijos, a voz de gabriela agonizava;
-Moço bonito...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

VINÍCIUS DE MORAES


Nome completo: Vinícius de Moraes
Pais: Clodoaldo Pereira da Silva Moraes e Lídia Cruz.
Cônjuge: Beatriz Azevedo de Melo Moraes, Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nelita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria (a Martita) e Gilda de Queirós Mattoso. 
Formação: graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais
Profissão: Diplomata, dramaturgo, poeta, jornalista, compositor,cronista de rádio e cinema.
Nacionalidade: Brasileiro
Estado: Rio de Janeiro 
Naturalidade:Rio de Janeiro
Nascimento: 19/10/1913
falecimento: 09/07/1980
Principais Obras: O caminho para a distância, Forma e Exegese, Ariana a Mulher, Novos Poemas, Cinco Elegias, Poemas, Soneto e Baladas, Orfeu da Conceição, Livro de Sonetos, Garota de Ipanema 

Músicas 
Garota de ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)


Eu Sei Que Vou Te Amar

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer

Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu Sei que vou chorar

A cada ausência tua eu vou chorar,
Mas cada volta 
Tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer

A eterna desventura de viver a espera
De viver ao lado teu
Por Toda a minha vida. 

Sonetos

Soneto de contrição
Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto

Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma

Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade

Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.


 

MALBA TAHAN


Nome completo: Júlio César de Melo e Souza
Profissão: Escritor e Matemático.
Nacionalidade: Brasileiro
Estado: Rio de Janeiro 
Naturalidade:Rio de Janeiro
Nascimento: 06/05/1895
falecimento: 18/06/1974
Principais Obras: O Homem que calculava, Amor de Beduíno, Lendas do Deserto,Salim o Mágico, Mil Histórias Sem Fim etc
 

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



Nome completo: Carlos Drummond de Andrade
Pais: Carlos de Paula Andrade e D. Julieta Augusta Drummond de Andrade
Cônjuge: Dolores Dutra de Morais
Filhos: Maria Julieta Drummond de Andrade
Formação: graduou-se em farmacia.
Profissão: poetisa, contista e cronista.
Nacionalidade: Brasileiro
Estado: Minas Gerais 
Naturalidade: Itabira 
Nascimento: 31/10/1902
falecimento: 17/08/1987
Principais Obras: Alguma Poesia, José,Nudez, Poesia Errante, A falta que am, A última pedra no meu caminho,dentre outros trabalhos.

No meio do caminho

Carlos Drummond de Andrade
 
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
 
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
 
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Quadrilha

Carlos Drummond de Andrade
 
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.

As sem-razões do amor

Carlos Drummond de Andrade
 
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
 
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
 
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
 
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

José

 
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, proptesta?
e agora, José?
 
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
 
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
 
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
 
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!
 
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
 

CORA CORALINA


Nome completo: Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas
Pais: Francisco Paula Lins Guimarães Peixoto e de Jacinta Luísa do Couto Brandão
Cônjuge: Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas.
Profissão: poetisa, contista e doceira.
Nacionalidade: Brasileira
Estado: Goiás
Naturalidade: Cidade de Goiás
Nascimento: 20/08/1889
falecimento: 10/04/1985
Principais Obras: Estórias da Casa Velha da Ponte, Poemas dos Becos de Goiás e estorias mais, Meninos verdes, Meu livro de Cordel, As cocadas, etc



Não Sei

Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais,
Mas que seja intensa, verdadeira, pura... Enquanto durar"


CECÍLIA MEIRELES


Nome completo: Cecília Benevides de Carvalho Meireles
Pais: Carlos Alberto de Carvalho Meireles e Matilde Benevides Meireles.
Cônjuge: Fernando Correia Dias e Heitor Vinícius da Silveira Grilo
Profissão: poetisa, pintora, professora e jornalista
Nacionalidade: Brasileira
Estado: Rio de Janeiro
Naturalidade: Rio de Janeiro
Nascimento: 07/11/1901
falecimento: 09/11/1964
Principais Obras: Nunca mais, Poetas Novos de Portugal, Batuque, samba e Macumba, roblemas de Literatura Infantil, poema dos Poemas, etc.
Prémios: Prémio Machado de Assis (1965)


Poemas e poesia

Cecília Meireles

Chovem duas chuvas"    

Chovem duas chuvas:
de água e de jasmins
por estes jardins
de flores e de nuvens.

Sobem dois perfumes
por estes jardins:
de terra e jasmins,
de flores e chuvas.

E os jasmins são chuvas
e as chuvas, jasmins,
por estes jardins
de perfume e nuvens

ANÍBAL MACHADO


Nome completo: Aníbal Monteiro Machado
Profissão: Escritor, futebolista e professor
Nacionalidade: Brasileiro 
Estado: Minas Gerais
Naturalidade: Sabará
Nascimento: 09/12/1894
falecimento: 20/01/1964
Obras: Viagem aos seios de Duília, A morte da porta estandarte, O iniciado do vento, João Ternura, Cadernos de João.

Trecho da obra João Ternura p. 153-156. ed.5, ano 1980
Uma noite, na rua Glória, frente a frente com Rute. Ternura teve um susto. Rita, um sorriso. E ele perturbado:

-Noite clara, hein? Clara mesmo. Uma beleza... Clara noite.
-Deve ser bonito lá em cima, não é?
-É. Deve ser Bonito
-Vamos lá?
-Vamos.

Já não bastava o encontro com Rita, ainda havia o convite dela. Ternura mal acreditou no que viu e agora no que acabava de ouvir. Era tudo maravilho, não apenas a noite.

Ao pé deles nascia uma das ladeiras para Santa Teresa. Os dois começaram a subir.

-Me parece que uma vez, não faz muito tempo, eu vi você, ou uma forma parecida com você atravessando o mercado. Foi de madrugada. Era você, Rita?
-Eu mesma. Por que não me chamou?
-Ó Rita, eu não tinha voz para te chamar... e meus olhos escureceram!

No alto, entre silhuetas de palmeiras, surgiu um velho casarão.
- Parece um palácio abandonado.
-É uma velha mansão em ruínas. Eu moro perto.
-As palmeiras se mexem.
-É a brisa do mar. O vigia me conhece. Foi passar o sábado no subúrbio com a filha.
-Deve ser bom morar lá em cima...
-Eu sei onde ele esconde a chave.

E foram subindo, de mãos dadas.

Rita no terraço

Fazia calor. Rita começou a despir-se. De repente, adormeceu. Ternura teve um sobressalto. Sozinho com ela. A subida fora difícil. O velho edifício ficara mais branco ao luar.

Tirou-lhe o resto da roupa. Correu ao patamar. Contemplou a cidade. Veículos miúdos, criaturas miudinhas se mexendo. A vida lá embaixo não acaba.
 
Só, com ela! Quem subiria até ali aquela hora da noite?

Começou a identificar os morros, os prédios; as luzes das ilhas; as luzes de Niterói, opacas na fumaça. Manobras prévia à degustação noturna de Rita.

Rita nua, atravessando em seu pensamento. Se quisesse ver-lhe o corpo, bastaria olhar para o lado. Ali estava ele pertinho, ao seu alcance da mão.

Em cima de um terraço, debaixo do céu! Sim, bastava só olhar para o lado. Mas ele retardava o momento de tocá-la. E prosseguia na inspeção da cidade.

Agora, o reconhecimento dos bairros. Tudo com falso interesse, só para preencher com a imagem da mulher dormindo os espaço que devassava. Só para distribuí-la pelos quarto cantos da cidade.

No cais, na sombra dos armazéns, no farol, no morro da Gamboa, nos aclives de Santa Teresa, na constelação do Pão de Açúcar, nos outros terraços, nos navios -Rita...Rita...Rita... sempre Rita.

Subitamente houve interrupção, apagou-se a imagem, Ternura volta aflito à procura de Rita, a ver se era ela que estava ali. Sim, ela ,mesma. Viva. Respirando...

Primeiro olhou para o conjunto. Recebeu um choque. Depois sorriu esfregando as mãos. Deu voltas em redor do corpo, como um índio em torno da fogueira. Teve vontade de dançar. Caminhou de novo até o patamar de pedra. Sentia a cabeça maior do mundo.

Ninguém chegaria até ali, nin-guém!

Uma emanação quente subia dos telhados. O corpo de Rita irradiava na penumbra. E exalava um silêncio de astro.

Abaixou-se para vê-la de flanco, com as coxas, os ombros colados ao ladrilho, os pés, a cabeça...

Rita infinita, interminável... As duas colinas dos seios empinados para o céu.

Em cima da cidade, na noite quente, a mulher dormia profundamente. Coitadinha, dormia... Se quisesse mata-lá, ali estava ela, sem defesa. Ela é o mar numa só respiração 

Levantou-se, sem fazer barulho, foi outra vez espiar a cidade. Era o seu modo especial de ilimitar a presença de Rita. Brilhando tanto, seu corpo podia ser visto lá de baixo como uma estrela nova. Os outros saberiam? Mas não desejaria oferecê-la à cidade. Seria só dele aquela noite.

Retirou as folhas de planta, ajoelhou-se, e as foi colocando nos pontos capitais do corpo amado. Tomou distância.

Rita enfeitada!...Dormindo ou fingindo que dormia... Mais poderosa dormindo que acordar.

Solene, o corpo de Rita! Esperaria a madrugada? Como seria esse corpo à luz da madrugada?

Correu a olhá-la de perto. A mão viajou por curvas e relevos. Com delicadeza para não desperta-lá. Ele se deitou sobre ela, gemeu em cima, penetrou-a.

Como não acorda agora à pressão de outro corpo? Ou estaria ela repetindo no abraço do momento o permanente e universal de suas noite?

Ternura sentiu as correntes elétricas que a ligavam ao corpo do prédio, à terra toda.

A vibração soprou, as folhas voaram para longe. Mais calmo, Ternura ouvia agora bater o coração da mulher.

Vibração universal dentro do peito de Rita. As pontas dos seios, como duas antenas.

Duas antenas...

Aplicou o ouvido. Mensagens, barulhos do mundo? Longo tempo ficou à escuta. Chegavam vibrações indecifráveis, não sabia se do corpo dela ou do fundo da Terra. Mas as ondas do Atlântico predominavam. Pois era quase sempre oceano que o corpo de Rita captava.

-Rita acorda!
Morta não estava. Mas um sono profundo, profundo demais.

-Rita acorda... Rita, Rita!